Viver no tempo ou na eternidade

VIVER NO TEMPO OU NA ETERNIDADE?

Hermógenes, um dos principais precursores do Yoga no Brasil, diz em seu maravilhoso livro “Yoga para Nervosos” que:

“Todo nervoso sente falta de algo, que julga essencial e que, por não ter, embora possa ter tudo o mais, faz de seus dias uma fieira de torturas subjetivas, íntimas, inenarráveis… A todo nervoso falta ser algo. A todo nervoso falta fazer algo”.

Continua ele:

“Vive em guarda, a defender-se de presumível assalto não sabe de que, nem de quem, nem de onde. Tem medo, como se vivesse perenemente ameaçado por um predador incógnito. É como sentinela em posição, em noite escura no campo de batalha. Por isso mesmo, seu desgaste é contínuo”.

Quem aí se identifica?
Eu me identifico SUPER.

Ao longo dos 15 anos em que atendi pessoas no meu consultório como psicóloga, e nos últimos 3, que venho me dedicando mais especificamente ao Autoconhecimento e à Educação Emocional pela internet, me arrisco a dizer: isso super caberia, da mesma forma, para qualquer ansioso.

A ansiedade é o mal do século, e o Brasil é o campeão mundial em casos de ansiedade, tendo nas mulheres suas principais vítimas. Por mais que as causas da ansiedade sejam multifatoriais, ou seja, não possam ser reduzidas simplesmente aos aspectos emocional e biológico, de uma coisa eu sei: todo ansioso vive para o futuro. E eu sei disso com propriedade, porque sou uma das pessoas mais ansiosas que eu conheço.

A primeira vez que entrei em contato com a ideia de que a ansiedade se relacionava, de alguma forma, com uma mente focada no por vir foi quando morei na China. Na época, estudava com um médico que se dedicava a tratar questões emocionais de seus pacientes com ervas, meditação e Qi Gong (uma prática energética chinesa cujo objetivo é mobilizar e movimentar as energias de autocura do organismo). Este médico, Dr. Wang, disse a frase mais linda que eu ouvi na minha vida – mas que, assim que a ouvi, não fez o menor sentido.

Ele me disse: “Existem duas formas de se viver: no tempo, ou na eternidade”.

Esta frase faz sentido para você? O que você pensa disso?

Quando eu a ouvi, imaginei que, por eternidade, ele estivesse se referindo a virar lenda – nunca mais ser esquecido, como Elvis Presley ou Jesus Cristo. Mas foi apenas quando ele continuou a explicação que eu compreendi a dimensão da ideia que ele estava compartilhando.

“Quem vive no tempo vive à mercê da mente, sempre do passado para o futuro, sem nunca parar. Quando a mente se foca no passado, a pessoa deprime. Quando foca no futuro, a pessoa se torna ansiosa. A única forma de se viver na eternidade é estar no momento presente. Porque não importa o que estejamos vivendo – estamos sempre vivendo o agora”.

Eu já tinha me deparado com a tal ideia do “Eterno Agora” em meus estudos iniciais no budismo, alguns anos antes. Mas nunca tinha estabelecido esta relação entre a ansiedade e o foco no futuro – mas quando pensei em mim e nas minhas próprias tendências, não pude concordar mais.

Eu sempre vivi pensando no futuro.

Na verdade, acredito que esta seja uma tendência de nossa sociedade – lembrando que nós somos a sociedade e alimentamos esta tendência. Estamos sempre preocupados com o que vem em seguida. Eu acredito, com todas as minhas forças, que o que existe por trás de tudo isso e alimenta esta cultura focada no futuro seja justamente o medo.

Você já parou para pensar em quantas atitudes na sua vida você toma a partir do medo? A partir da necessidade da evitação de riscos e dos resultados negativos? A grande maioria de nós não escolhe coisas pautada no que quer viver, e sim no que quer evitar.

Preste atenção:

Eu vou tomar vacina para não ficar doente.
Eu vou continuar neste emprego que odeio para não correr o risco de passar necessidade.
Eu vou permanecer neste relacionamento que não me faz feliz para não ficar sozinha.

E, assim, vamos construindo uma vida pautados nos medos acerca do futuro, ao invés de desenvolvermos um foco e uma percepção no que existe no aqui e agora.

No fundo, é uma mudança sutil:

Eu vou tomar vacina porque quero continuar saudável.
Eu vou continuar neste emprego que odeio porque o dinheiro que recebi é importante para a minha segurança.
Eu vou permanecer neste relacionamento que não me faz feliz porque, hoje, quero estar acompanhada.

As ações, em princípio, podem até ser as mesmas. Mas seu foco, sua justificativa e motivação estão no aqui e agora. E focando no que estamos vivendo no aqui e agora fica mais fácil e simples até mesmo de percebermos nossas fragilidades, dificuldades e carências.

Nos damos conta do medo da doença.
Percebemos o quanto estamos colocando mais foco no dinheiro do que na satisfação.
Admitimos que, às vezes, o medo de ficarmos só é tão grande que preferimos estar na companhia de quem não nos faz feliz.

E, enxergando quem somos no aqui e agora, temos a oportunidade de agir sobre aquilo que efetivamente está no nosso controle: o que está acontecendo em nossas vidas no aqui e agora.

Fazendo isso, abandonamos o tempo e mergulhamos na eternidade.
O que pode ser mais importante, simples e belo?

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.