vergonha de que

VERGONHA DE QUÊ?

Vergonha: todo mundo tem de alguma coisa.

De falar em público, do corpo, de usar uma determinada roupa, de comer na frente dos outros. De chegar sozinho em algum lugar, de falar em um idioma novo que se está praticando, de fazer pergunta para o professor…

Uma das coisas mais naturais do ser humano é sentir vergonha – e, cá entre nós, acho que nunca vamos deixar de ter vergonha de alguma coisa.

Porque a verdade é que a vergonha não tem absolutamente nada a ver com o que está acontecendo no momento presente, e sim guarda relação com feridas muito antigas e primitivas que foram se formando durante nosso processo de criação.

Eu explico:

Todos nós nascemos nos sentindo inteiros, completos e perfeitos. Nenhuma criança nasce com medo de não ser amada, de ser rejeitada, de perder o amor dos pais.

Esses medos vão se formando ao longo do nosso processo de crescimento, conforme nosso sistema nervoso central vai se completando e novas estruturas cerebrais, se desenvolvendo.

Conforme isso vai acontecendo, vamos compreendendo que nossas ações têm consequências e que algumas delas não nos deixam confortáveis.

Pode ser um olhar atravessado dos pais, uma expressão de reprovação da avó, uma bronca da professora. Estas reações, ou feedbacks, acionam determinadas estruturas cerebrais que foram desenvolvidas ao longo de centenas de milhares de anos de evolução e que visam justamente a sobrevivência da espécie através do pertencimento e da aprovação de um grupo social.

Quando essas estruturas são acionadas, entramos em contato com sensações internas que nos apontam que estamos em perigo. Fizemos algo que gerou a reprovação dos outros, e a sensação que vem é de inadequação.

Vergonha nada mais é do que isso: uma profunda sensação de inadequação.

Só que essa inadequação absolutamente nada tem a ver com a situação atual – desde quando ficar de biquini em público poderia colocar nossa sobrevivência em risco?

A questão é que, conforme fomos nos tornando seres simbólicos, nossos riscos e ameaças também passaram a ser.

E dependendo dos valores que recebemos ao longo de nossa infância do que era importante para o primeiro grupo do qual pertencemos – o familiar – passamos a projetar pela vida este mesmo sistema de valores.

Um sistema familiar muito preocupado com estética, somado a uma forma bastante enfática e rigorosa de enviar feedbacks de reprovação pode gerar membros profundamente envergonhados de mostrar o corpo – independentemente de sua forma, peso ou aparência.

Uma família com questões muito fortes referentes à opinião alheia pode desembocar em um membro familiar muito envergonhado de falar em público, e um grupo familiar muito focado na intelectualidade pode dar origem a uma pessoa com muita dificuldade de fazer perguntas na sala de aula, por exemplo.

Antes de qualquer outra coisa, a vergonha reflete uma enorme sensação de insuficiência, como se eu tivesse que de alguma forma ser diferente do que eu sou.

Assim, me parece muito mais interessante, ao invés de combater a vergonha que apenas reflete a existência de uma ferida infantil, desenvolver formas de entrar em contato com esta emoção sem que ela necessariamente se transforme em comportamentos de evitação.

Você pode sentir vergonha, pode experimentar esta vergonha no seu corpo, pode localizar onde a energia relacionada a esta sensação te afeta, pode respirar e desenvolver presença e consciência amorosa para esta sensação, utilizando-a inclusive de ponte para reencontrar partes suas que foram abandonadas ao longo da sua vida…

Ou pode continuar acreditando que você é inadequado e insuficiente.

O que você escolhe?

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.