Você já reparou que, sempre que nos damos conta de que estamos sentindo algo, necessariamente precisamos fazer alguma coisa com isso? Porque essa urgência em fazer, realizar, acontecer? É um fenômeno que vivencio muito em meus atendimentos: mal os cocriadores se dão conta de algum sentimento, ou algo em suas vidas, eles já me perguntam: “tá, e o que eu faço com isso?”.
Tudo no Universo é regido por duas forças opostas e complementares: Yin e Yang. O Yin tem mais a ver com o feminino, com a quietude e com o silêncio. O Yang está mais relacionado ao masculino, à ação, à mobilidade, movimento. Yin e Yang, em harmonia, garantem uma vida em harmonia. A perda de equilíbrio entre Yin e Yang dá origem a todas as desarmonias e desbalanceamentos que existem, em qualquer espectro: desde catástrofes naturais, passando pelas doenças e chegando até à morte – quando Yin e Yang, finalmente, se separam em definitivo. O que é pesado, nosso corpo, volta para a terra, que é Yin; o que é leve, nosso espírito, volta para o céu, que é Yang. Mas o que é que Yin e Yang tem a ver com tudo isso?
Tem a ver que você querer saber o que vai fazer com tudo o tempo todo é estar polarizado no lado Yang do acontecimento. Se você só quer fazer, e fazer e fazer coisas, o tempo todo, sem nunca parar para respirar e sentir o efeito das suas atitudes, você está em desequilíbrio. Está tão conectado com o Yang e tão distante do Yin como o período de secas que destrói a vegetação: não há nutrição, só o sol queimando toda a vida que estiver a seu alcance. Do mesmo modo: alguém que só sente e não faz nada para sair da situação, também está polarizado. E o equilíbrio está sempre no caminho do meio.
Por isso, quando me perguntam “o que eu faço pra sair disso?”, eu respondo: para sair disso, antes você tem que entrar nisso. Você precisa aceitar que isso exige, e ninguém aceita que algo existe sem olhar direitinho na direção deste algo. É preciso respirar este algo. É preciso tocar este algo – ver a dimensão deste algo, até onde este algo vai? Como é que ele repercute em mim? O que eu sou, a partir do ponto de vista deste algo? Como este algo me transforma? O que eu sinto por mim mesmo, quando aceito que este algo existe? Será que eu existo, sem este algo? Será que este algo não merece seu espaço dentro do meu coração? Mas não: ninguém quer este algo, todo mundo quer se livrar do algo, todo mundo quer fazer algo para se livrar do algo que transforma todo mundo em algo que ninguém sabe o que é, porque não se dá tempo de saber.
A grande charada é perceber que o Yin, o vazio, o silêncio… É o que possibilita a geração de qualquer coisa. É na quietude que as ideias surgem, que a inspiração se manifesta – que nos conectamos com níveis superiores de nós mesmos. E é depois deste acolhimento inicial que, finalmente, o Yang, a energia masculina entra em ação para efetivamente realizar algo, já cientes do que vem a ser este algo. Primeiro entramos em um lugar, e depois nós saímos. Primeiro nós acolhemos, e depois colocamos em movimento. Não dá para passar do antes para o depois sem passar pelo durante. Simplesmente: não dá para passar do antes para o depois sem passar pelo durante!
A urgência do fazer alguma coisa, qualquer coisa, que me aproxime do ponto onde eu não mais tenho o que acabei de descobrir que tenho é, apenas, mais uma tentativa do Ego de varrer a Sombra para debaixo do tapete – e nós, queridos cocriadores, já sabemos que não é só porque apagamos a luz do quarto que a cama deixa de estar lá. Mesmo que não gostemos da cama: que sejamos capazes de manter a luz acesa.
Vai ser bem mais fácil de efetivamente fazer qualquer coisa com a cama se conseguirmos enxergar onde pisamos.