Escrevo este texto diretamente do último dia do Desafio Você em Paz – programa online de dez dias de duração que mobilizou mais de 20 mil pessoas motivadas em serem a melhor versão de si mesmas, regidas pelo princípio da paz interior e da espiritualidade. E o desafio de hoje é, talvez, o mais desafiador de todos, ao menos para mim: SILENCIAR.
O que significa silenciar para você?
De sopetão: silenciar = ficar em silêncio. Não falar. E quando a gente pensar nisso sob o viés do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, a primeira coisa que vem é justamente MEDITAR. A questão é que, de acordo com a minha experiência e a experiência das milhares de pessoas que partilham comigo suas vivências, quando a gente se senta para meditar a última coisa que vem é o silêncio.
Você se lembra da conta que esqueceu de pagar.
Sente uma dorzinha naquele ponto das costas e já se pergunta se é algo grave.
Pensa no médico que precisa marcar e vive se esquecendo.
Sente fome e se pergunta quanto tempo já passou.
Se lembra de onde guardou aquele colar que você ama e não sabe onde está há meses.
Como dizia Osho, “sua mente parece uma praça de mercado – muitas vozes”. Então, a meditação não traz silêncio propriamente dito, pelo menos não de cara. Não é isso que a meditação faz por mim e eu acredito que não seja isso que ela faz por você.
Mas então, para quê serve a meditação?
Esta sim é a pergunta que vale um milhão de dólares.
E a resposta é tão simples que até dói: a meditação serve para desenvolver o observador.
Você já reparou como fala de si mesmo, da mente que te habita e do corpo que te leva para um lado e para o outro? Quando fala de si mesmo, você fala “EU”. Mas quando fala da mente e do corpo, você diz: “MINHA mente; MEU CORPO”. Quando se refere ao que você pensa, você fala sobre os “SEUS” pensamentos. E a mesma coisa acontece quando se refere ao que você sente: as emoções são SUAS.
Mas se você não é o seu corpo, não é a sua mente, nem seus pensamentos ou emoções, QUEM É VOCÊ?
Você é o OBSERVADOR.
Aquele que observa os processos.
O que testemunha os fenômenos e processos.
A meditação serve para ganharmos familiaridade com a nossa mente e perceber a quantidade de bobagens que ela diz. Serve para que possamos compreender como julgamos, opinamos, rejeitamos e desaprovamos a realidade – pelo menos a maior parte do tempo. Meditar ajuda a entender que, não importa o que esteja acontecendo bem diante dos seus olhos, você sempre pode subir em um “banquinho imaginário” e enxergar a situação de cima, de forma mais desidentificada, menos misturada, mais imparcial.
Eu, por exemplo, só sou capaz de conviver em sociedade porque medito.
Minha mente é absolutamente viciada em julgamentos. Coisas, pessoas, situações – a mim mesma. O tempo todo, minha mente me diz o que eu deveria estar fazendo / sentindo / recebendo / sendo. É exaustivo e, muitas vezes, absolutamente negativo porque a verdade é que a mente mente e muitas das situações que eu acreditei serem tragédias na minha vida eram, na verdade, bênçãos disfarçadas de problemas. E, até que a verdade se revelasse, minha mente apitou, criticou, julgou. Disse que tudo estava errado e que tudo estava torto e, com isso, trouxe um monte de dor e sofrimento.
Quantas vezes na sua vida você achou que estava diante de um problema imenso e, lá na frente, percebeu que o que acontecia era na verdade uma oportunidade única de crescimento e realinhamento? Você já viveu situações em que o mundo parecia estar desabando quando, na verdade, as peças estavam apenas se encaixando nos lugares certos?
Para mim é nítido: se por acaso dou um tempo da meditação, começo a ficar mais reativa e menos centrada. Começo a culpar as pessoas pelos meus problemas e me achar vítima do Universo. Minha mente rapidamente começa a se tornar catastrófica e eu passo a enxergar perigo e medo em qualquer coisa que acontece. Quando dou por mim, me esqueci completamente de valores mais elevados como “paz”, “essência” e “honestidade”. Tudo o que existe é defesa, evitação de riscos e busca por segurança.
As pessoas que me procuram trazem muitas questões existenciais. Elas compartilham suas experiências, seus anseios e sonhos e não hesitam em admitir a quantidade de autoboicotes e sabotagens às quais se submetem por puro medo. Se eu pergunto, elas não sabem responder medo de quê: de tudo, elas me dizem. De não conseguirem realizar seus sonhos, conquistar seus objetivos, ter uma vida boa.
Elas falam e falam e falam e tudo o que eu vejo é uma boca se mexendo e uma mente deliciada em discorrer sobre os perigos e os riscos que existem nesta vida e, veja bem, “quem este ser humano seria sem mim” – é tudo o que ela quer. Ser necessária, absolutamente fundamental, indispensável. Ela quer que nos convençamos que não podemos colocá-la de lado – e quer falar, falar, falar.
Eu não sou Maria-adivinha, mas 90% dos problemas que eu ouço as pessoas falarem (e de meus próprios problemas, veja bem) seriam facilmente resolvidos com mais meditação e menos mente. E digo mais: concordo totalmente com a frase de Dalai Lama que diz que “se ensinássemos nossas crianças a meditar, em uma geração acabaríamos com todos os problemas do mundo”. Porque os problemas sociais que nos afligem tanto são mera ausência de consciência e excesso de medo, preocupação e identificação com a mente.
São pura falta de bom senso – mas não senso mental, racional. Senso de Ser.
O Ser é o observador.
Mas é importante desmistificar que a única meditação que existe é aquela em que a gente senta e fica de olhos fechado com expressão plácida no rosto. JAMAIS! Existem tantas técnicas e tipos de meditação quanto existem diferentes tons de cabelo ou cores de pele – e é por isso que, dentro do Portal Despertar, temos um programa de 3 meses de duração chamado “Desafio da Meditação”, um dos queridinhos de nossos assinantes, cujo objetivo é justamente mostrar que meditar pode ser algo bem mais dinâmico (e divertido!) do que podemos imaginar a princípio.
Uma das minhas técnicas de meditação preferidas foi ensinada pelo mestre Osho e se chama Gibberish: consiste em ficar em pé, fechar os olhos e se mover livremente pelo cômodo onde você estiver, falando em uma língua que não existe. Outra de minhas práticas preferidas se chama Qi Gong e é uma “meditação em movimento” praticada pelos taoístas na China há milhares de anos.
Seja qual for a sua técnica escolhida, de uma coisa tenha certeza: o desconforto vai estar te esperando logo ali, virando a esquina. Sua mente vai apitar, reclamar e se queixar – mas independentemente do que ela diga, lembre-se sempre: serão a SUA mente e os SEUS pensamentos.
Você os possui.
Você é o Observador.
Feche os olhos e Desperte!