Esta semana ouvi, de dois completos desconhecidos, que conversavam enquanto caminhavam na rua à minha frente, uma história que escutei pela primeira vez há muitos anos e da qual não me lembrava em absoluto.
Conta-se assim que um diretor de jornal mandou que seu melhor jornalista escrevesse uma matéria sobre como consertar o mundo. Deu-lhe 3 dias de prazo e o jornalista, que era lá bastante autoconfiante, deixou tudo para a última hora. E, na véspera do deadline, lá estava o jornalista debruçado sobre o computador, sem saber o que escrever quando, seu filho de dez anos que jogava bola no quintal, errou a mira e a bola bateu na vidraça no escritório do jornalista, quebrando-a em mil pedaços. O jornalista, muito bravo, pegou uma página de revista que trazia o mapa mundi como ilustração, picotou-o em centenas de pedaços e ordenou ao filho que ficasse de castigo até que conseguisse unir os pedacinhos, formando a imagem do mapa mundi novamente. Qual não foi sua surpresa quando, menos de cinco minutos depois, o menino voltou com o mapa completamente refeito. O jornalista, muito impressionado, perguntou ao filho como ele havia conseguido aquela proeza, ao que o menino respondeu: “foi simples, papai. O senhor não viu mas, do outro lado da folha, havia a foto de um homem. E ao consertar o homem, eu consertei o mundo”.
Esta é uma história que sempre me emociona, porque temos a tendência de achar que a solução de nossos problemas, enquanto humanidade, estão lá longe, nas coisas grandiosas – como matar a fome na África, curar o câncer ou acabar com o problema da poluição nas grandes cidades. Não que estas coisas não sejam importantes – evidentemente que são. Mas e o aqui e agora? Ao invés de pensar na poluição nas grandes cidades, será que preciso realmente usar o meu carro, emitindo um monte de poluentes na atmosfera, para percorrer uma distância de meia dúzia de quarteirões? Ao invés de pensar na fome da África, será que eu ajudo ao cara que está me pedindo um litro de leite na porta da padaria? Ao invés de focar minha atenção na cura do câncer… Parei de fumar?
Falando desta forma pode parecer simplista – e as pessoas não gostam de coisas simples. A maioria das pessoas gosta das coisas grandiosas, difíceis, verdadeiros desafios. A gente quer é falar mal do político que é pego com dólares na cueca, mas adora sonegar imposto de renda. A gente reclama que nada é feito pela saúde pública no país, então a gente paga assistência médica privada e não tem mais que lidar com o problema. Agente maldiz o trânsito, mas o que faz? Sabe o que a gente faz? Nada. A gente maldiz o trânsito e não percebe que a gente É O TR NSITO. A gente aponta o dedo pra Deus e todo mundo e fala mal da sociedade e não se dá conta de que, rélo-ou, a gente É A SOCIEDADE! A gente a-do-ra falar do outro e… Tchãrã! Gente: o outro é só um espelho. Tudo aquilo do que a gente reclama está, de uma forma ou de outra, presente na gente.
Outro dia escrevi uma frase na qual MAIS DO QUE ACREDITO com todas as minhas forças: as pessoas são a maior prova de que Deus existe. Porque é apenas olhando para as pessoas que conseguimos nortear ONDE NÓS ESTAMOS. É apenas graças aos desconfortos e incômodos e dores que sentimos quando olhamos para o outro que temos a possibilidade de “consertar” o que está quebrado dentro de nós mesmos. E, diante de qualquer desconforto que experimentamos em qualquer relação, temos duas possibilidades: apontar o dedo para o outro, julgando-o e condenando-o… Ou olhar para dentro de nós e perceber qual espaço de fragilidade está sendo cutucado pelo outro. Olhar para quem somos e perceber que a dor que existe dentro de nós é de nossa responsabilidade – não do outro. Olhar para dentro, nos apropriarmos de nós mesmos e dizer, em alto e bom som, para que o Universo ouça: “esta dor é minha, e só por ser minha é que terei a capacidade de mudá-la”. A gente só consegue transformar a realidade quando consegue se apoderar dela. Ponto final. No maior estilo “o que não gosto no outro eu corrijo em mim”.
O que você escolhe? O que você vai fazer?
O mundo é muito grande para ser transformado. E você, e eu… Nós somos pequenos demais para mudar alguma coisa que seja maior do que o nosso próprio tamanho. A gente não foi feito para mudar o mundo. A gente não precisa mudar o mundo. A gente nem precisar fazer alguma coisa, que até onde eu sei não tem nenhuma arma apontada para a nossa cabeça neste momento (ao menos não para a minha). Mas se for para mudar alguma coisa, o ponto de partida vai ser sempre o Eu. TUDO COMEÇA NO EU. Nada que vier de fora fará sentido se não encontrar ressonância na parte de dentro. NUNCA. Nada jamais FARÁ SENTIDO se não FOR SENTIDO, se a gente não sentir, se não passar pela parte de dentro, o coração, que sente.
Conserta-se o homem, conserta-se o mundo. E, neste dia, a maior vingança contra o corrupto será ser honesto. Neste dia, seremos exemplos vivos dos comportamentos que desejamos que os outros tenham. No dia em que formos a mudança que desejamos ver no mundo será impensável um ser humano passando frio, ou fome, ou estando doente sem assistência adequada. No dia em que percebermos que temos que trabalhar apenas o que existe dentro de nós O MUNDO INTEIRO estará transformado. E então a cura das doenças, o fim da corrupção, do trânsito e das mentiras serão MERAS CONSEQUÊNCIAS.
Talvez eu não esteja viva para ver estas mudanças acontecendo. Posso morrer antes, mas vou morrer tentando.
E você?
Boa vida! Para todos nós ♡