A Voz

A VOZ

Você pode não saber quando foi que se perdeu de si mesmo, mas eu sei – e sei porque foi exatamente quando eu me perdi de mim.

A minha história e a sua história e a nossa história acontecem mais ou menos assim: a gente nasce simplesmente sendo – mas, com o tempo, aprender que precisa começar a ter.

Num primeiro momento, não é na direção das posses materiais que esse “ter” caminha. Ter valor, ter afeto, ter apoio – esses são os verdadeiros “teres” que mobilizam a nossa existência em um primeiro momento.

Só que esses “ter” envolvem uma série de “ser” – e a gente aprende que precisa ser menos isso e mais aquilo pra ter mais disso e menos daquilo.

No início, quem nos dita essas regras e caminhos são as pessoas responsáveis pelos nossos cuidados: nossos pais, movidos por amor incondicional, tentam balizar nossa existência através daquilo que balizou a sua – que, por sua vez, balizou a de todas as gerações da sua família até mais ou menos chegar em Adão e Eva.

Com o tempo, esse conjunto de regras e valores passa a ser internalizado e se transformam em uma poderosa instância de nosso psiquismo: a Voz.

A Voz nos fala como devemos ou não ser, como devemos ou não agir, como podemos ou não nos comportar, sentir, pensar, se relacionar. A Voz nos dita como nossos corpos devem ser e como devemos nos alimentar e nos move para chegar lá, porque para a Voz é sempre o lá que importa, sempre, sempre.

A Voz nos diz que aquilo que fazemos nunca é suficiente.
Que quem somos não é suficiente.
E, consequentemente, aquilo que temos também não é.

A Voz está presente dentro de cada cabeça de cada ser humano há mais tempo do que podemos imaginar, sendo passada de geração em geração e quase nunca sendo questionada, porque vejam: todos nós acreditamos que ela e nós somos a mesma coisa.

A Voz fala dentro da gente de forma tão convincente que nos confundimos com ela e permitimos que ela se torne a nossa identidade. “Você não é inteligente o suficiente, deveria estudar mais. Talvez assim conseguisse ser alguém na vida e, quem sabe, arrumar um emprego decente”.

E, assim, a gente bate em retirada do momento presente, no qual nunca somos o suficiente, fazendo tudo e qualquer coisa para obedecer aos desígnios da Voz para tentar ser alguém – nunca o seremos, se não cedermos à sua crítica excessiva.

Nesse caminho de ser mais, melhor e, em última análise, “alguém”, vamos perseguindo comportamentos que nos aproximam do “ter” ao afeto, a valorização e o reconhecimento – e nos afastamos daquilo que sentimos quando este sentir não é digno de alguém que “é alguém”.

Varremos nossos medos, anseios, inseguranças, raiva e tristeza para debaixo do tapete – sem perceber que estes sentimentos fazem parte de quem somos da mesma forma que nossa benevolência, confiança, bondade e generosidade.

A pegadinha acontece porque, muitas vezes, o que nos faz sentir essas coisas todas é justamente a Voz e todo o seu discurso de ódio contra quem somos no momento presente.

Nós nos perdemos de nós mesmos no momento em que passamos a acreditar no que a Voz diz – e saber disso nos aproxima de quem somos pelo simples fato de que, agora, podemos tratá-la como ela merece ser tratada.

O melhor que a Voz merece de nós é ser completamente ignorada. Deixada de lado.

O nosso caminho de redenção é aprender – e apenas assim – como não agir em função da Voz.

O que te impede?

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.