Há algumas semanas, recebi um email de uma seguidora com uma pergunta muito interessante sobre meditação e motivação. Ela escreveu citando um artigo do New York Times cujo título era bem curioso: “Ei Chefe! Você não quer que seus funcionários meditem” – o que gera, no mínimo, curiosidade, já que todos os estudos mais atuais sugerem que a meditação nos locais de trabalho vem sendo estimulada.
Para ler o artigo original na íntegra, CLIQUE AQUI.
No artigo, são comentados alguns estudos conduzidos dentro de várias abordagens meditativas conduzidas em locais de trabalho, e o quanto os funcionários relatavam se sentir motivados após a prática da meditação. Os resultados eram alarmantes: a maioria dos voluntários disseram se sentir menos motivados para desempenhar suas tarefas rotineiras de trabalho (como, por exemplo, fazer memorandos e digitar no computador) após as práticas meditativas. E o pior: nem depois de terem recebido incentivos financeiros, sua motivação aumentou.
E aí? Meditar deixa as pessoas mais preguiçosas? Estagnadas? Desmotivadas?
Minha resposta para estas perguntas: sim e não.
Todos nós sabemos dos incríveis benefícios da meditação, amplamente divulgados em estudos científicos e meios de comunicação: redução dos níveis de estresse e de ansiedade, melhora significativa dos sintomas de depressão, de dores crônicas, diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial e melhoria da qualidade do sono – citando apenas os benefícios físicos ligados à prática.
No plano emocional, os resultados também são impressionantes: quem medita se torna menos reativo, ou seja, o espaço de tempo entre receber um estímulo e emitir uma resposta aumenta. Por exemplo, quando leva uma fechada no trânsito ou recebe uma provocação via rede social, a pessoa que medita tem maior potencial para resistir ao impulso de se envolver em uma discussão do que uma pessoa que não medita.
Isso porque, talvez, o maior benefício no plano mental/emocional da meditação que o praticante alcança é a desidentificação com seus pensamentos. Ou seja: quem pratica a meditação com regularidade tem uma maior facilidade em não acreditar em tudo que sua mente diz. Eu ainda arrisco dizer que este é o benefício primário a todos os outros experimentados pelos meditadores; é por causa disso que os níveis de ansiedade e de estresse diminuem, é por isso que quem tem depressão sente melhoras.
E melhora porque começa a perceber que a grande maioria das coisas que a nossa mente nos diz é… Bobagem.
Veja bem: eu sou super fã da mente. Não sou dessas que acha que o caminho da felicidade dentro da Espiritualidade e do Autoconhecimento é jogar o Ego pela janela – até porque, como psicóloga, compreendo o Ego dentro de uma função psíquica profundamente organizadora e importante. Acredito que a mente, quando utilizada da forma certa, pode ser nossa melhor amiga. Mas para que isso aconteça, é importantíssimo que compreendamos que nós não somos o que pensamos.
Sabe aquela famosa frase “Penso, logo existo”? Na minha opinião ela deveria ser, “Penso, logo não me deixam existir”.
Porque nossos pensamentos podem ser um saco. Eles podem buzinar, em nossas mentes o tempo todo, que só nos sentiremos felizes e satisfeitos quando alcançarmos determinada meta. Quando tais pessoas nos admirarem. Quando ganharmos tanto dinheiro. Quando recebermos tal promoção.
Já está entendendo, né?
Infelizmente, o artigo do NY Times não cita com o que os voluntários do estudo trabalhavam – apesar de citar o artigo original, que infelizmente precisa ser pago para ser acessado. Também não menciona se os voluntários sentiam, anteriormente ao trabalho, que faziam o que faziam por algo além de dinheiro, status ou reconhecimento. Na minha opinião, esta seria a informação mais valiosa de ser levada em consideração: eles gostavam de fazer o que faziam? Faziam por missão, por propósito? Ou simplesmente pela necessidade de trabalhar, de ganhar dinheiro, de sobreviver?
Infelizmente, nossa sociedade e o modelo de mercado vigente se beneficiam e se alimentam desta dinâmica na qual pessoas, que se sentem infelizes, precisam trabalhar com o que não gostam por estarem motivadas em ganhar dinheiro para comprar coisas que elas acham que vão trazer a felicidade. Você já parou para pensar em como jornalistas de telejornais de canais abertos ganham seus salários? Quem paga o dinheiro que os atores de novelas recebem?
Você.
Você não paga nada para as emissoras de televisão, os anunciantes pagam. E eles pagam, comprando “tempo” nos comerciais, porque sabem que as pessoas são altamente influenciadas pelas propagandas. E eu escrevi “tempo”, entre aspas, porque não é tempo que eles estão comprando. Eles compram audiência – compram a atenção das pessoas que estão ali, esperando pela continuação de seus programas preferidos.
Você paga o salário da atriz da novela quando faz o crediário nas Casas Bahia – que, como já diziam, sábia e ironicamente os Mamonas Assassinas, é a verdadeira felicidade.
É um ciclo vicioso: pessoas que se sentem infelizes são condicionadas a acreditar que comprando coisas, das quais muitas vezes não precisam, vão se sentir felizes. E isso de fato acontece, durante alguns instantes. Mas o vazio, que não foi preenchido, apenas parcialmente maquiado, acaba voltando. E a única saída para este vazio é comprar alguma coisa novamente. E haja dinheiro pra manter essa roda girando!
(Se você quer entender melhor como este ciclo vicioso funciona, não deixe de assistir ao documentário Minimalism, na Netflix)
Ninguém precisa ser especialista em saúde mental para entender que esta dinâmica de “nunca é suficiente” é exatamente uma das causas de todas aquelas coisas que a meditação ajuda a diminuir: ansiedade, estresse, pressão alta, depressão. E não precisa ser expert em autoconhecimento e espiritualidade para concordar que bens, status e conquistas de ordem material não são a resposta para a felicidade.
Daí você soma um mais um e entende o porquê do título do artigo: “Ei Chefe! Você não quer que seus funcionários meditem”. Mas, obviamente, isso não vale para todos os chefes e nem para todos os funcionários. Um título mais adequado talvez fosse, “Ei Chefe que trabalha em uma empresa com mentalidade de exploração e não de desenvolvimento de pessoas! Você não quer que seus funcionários que trabalham apenas por dinheiro, status e reconhecimento meditem – porque eles vão descobrir que nenhuma dessas coisas vai fazê-los felizes, e podem pedir as contas!”.
Mas eu acho que ficaria longo demais.
Por fim, vale ressaltar que eu não sou contra dinheiro, conforto ou qualquer tipo de bem ou experiência material de qualquer ordem. Eu adoro poder comer em um restaurante gostoso sem precisar fazer as contas se meu limite do cartão de crédito vai ser suficiente ou não. Amo poder tirar férias uma vez por ano e viajar para um lugar gostoso e fico super feliz quando reabrimos as portas do Portal Despertar e um monte de gente faz a assinatura. Adoro meu celular, meu computador e meu carro.
E não há absolutamente nada de errado com isso.
Mas existe uma coisa fundamental por trás disso tudo: eu gosto do meu trabalho e acredito no que eu faço. Então, minhas motivações em muitas vezes trabalhar até meia-noite mesmo sabendo que meu filho vai me tirar da cama às seis não se resumem a dinheiro, reconhecimento ou status. Quando vejo novos assinantes chegando no Portal Despertar, minha mente não se foca no dinheiro que vai entrar a mais por mês – desta parte eu me lembro quando preciso remunerar bem as pessoas que trabalham comigo, e eu sinto um prazer enorme em saber que todos nós temos vidas confortáveis. Eu não fico botando metas inalcançáveis para a minha galera, e nem exijo que eles trabalhem X horas por dia.
Eu atuo em um modelo de negócio muito diferente, no qual nem consigo me considerar chefe – sou líder, em alguns momentos, é claro. Mas eu tenho meus melhores amigos trabalhando comigo, em uma tarefa linda de Despertar pessoas para que o mundo que eu vou deixar para meus filhos seja uma versão melhorada do que o que recebi dos meus pais.
Quanto mais eu medito, mais feliz e motivada me sinto para trabalhar.
Eu tenho certeza de que meditar pode trazer uma motivação semelhante para a sua vida – basta que você também tenha em mente o que é verdadeiramente importante.
E, acredite em mim, nada é mais fundamental do que isso.