Frustrai-vos uns aos outros

FRUSTRAI-VOS UNS AOS OUTROS

Na semana passada eu escrevi um post que terminava com a seguinte frase: “aprendam a frustrar as outras pessoas, se este for o preço da sua saúde mental”.

A quantidade de feedbacks que eu recebi foi tão grande que me veio a certeza de que, tão importante quanto a máxima “amai-vos uns aos outros”, é a sabedoria do “frustrai-vos uns aos outros”.

Não destrui-vos uns aos outros, agredi-vos uns aos outros ou odiai-vos uns aos outros. Apenas: frustrai-vos, do verbo frustrar, que de acordo com o dicionário significa “não corresponder à expectativa de (alguém ou si mesmo); decepcionar (-se)”.

E quando eu chamo a atenção para a importância deste aprendizado, não é por ser uma vaca megera que quer ver as outras pessoas sofrendo e chorando, e sim porque, como psicóloga, compreendo a importância que se autorizar a não corresponder às expectativas alheias adquire no processo de individuação.

A Individuação é um dos conceitos mais básicos e fundamentais da Psicologia Analítica, desenvolvida pelo famoso psicólogo suíço Carl Gustav Jung, e define o processo através do qual cada um de nós se torna inteiro e total – e o autoconhecimento é a maior ferramenta para que este processo aconteça.

Ou seja: Individuação é o que todo mundo que curte autoconhecimento e essa vibe do processo de Despertar quer. É ser quem somos e experimentar (a maior) paz (possível) nisso. É estarmos em contato com a nossa essência e despertarmos nosso pleno potencial. É conhecermos o que nos move, o que nos impulsiona e reunir nossos recursos e ferramentas para caminhar na direção da realização dos desejos reais de nossos corações e almas.

O fato é: não existe possibilidade da Individuação acontecer sem que, em um momento ou outro da nossa jornada, nossas necessidades e impulsos mais verdadeiros e autênticos, sejam contrários ao que esperam pessoas que fazem parte de nossas vidas.

É impossível se individuar sem, em alguma situação, frustrar alguém.

E algo que deveria ser tão simples quanto compreender que o SIM mais importante que falamos é para nós mesmos, se transforma em uma situação causadora de sentimentos desagradáveis como culpa, vergonha e todo o tipo de arrependimento e ressentimento possível.

Claro que ninguém gosta de ser frustrado. Mas, da mesma forma, ninguém gosta de se sentir cobrado e é isso o que fazemos conoso quando nos obrigamos a dançar conforme a música que o outro toca, quando todo o nosso ser pede por um ritmo diferente.

E eu não estou falando aqui de coisas corriqueiras da vida como, por exemplo, aceitar dividir a sobremesa de chocolate com a melhor amiga no restaurante mesmo querendo muito experimentar a de morango. Estou falando de experiências muito profundas e intensas, que norteiam toda a jornada de nossas almas nesta vida.

Estou falando de trabalhar com algo que você não suporta, só porque é o que se espera de você porque a sua família isso ou a sua faculdade aquilo. Estou falando de permanecer em um relacionamento que não te faz bem porque sair dele seria romper com expectativas de outras pessoas.

Eu tenho uma amiga que, hoje, beira os 50 anos. Ela já foi casada com um homem mas faz mais de vinte anos que só se relaciona com mulheres. Ela sabe muitíssimo bem que esta é a sua vibe, ela mora sozinha, é independente e paga as próprias contas há muito tempo. Mas, à despeito disso, ela nunca viveu a situação de andar de mãos dadas com uma namorada na rua. NUNCA. Ela mora em uma cidade pequena e, por mais que tenha muitos amigos homossexuais e deste assunto nem ser mais tão tabu assim, ela simplesmente não tem coragem de viver abertamente um relacionamento porque morre de medo da opinião das pessoas a seu respeito.

E ela sabe que isso é uma “bobagem”- mas simplesmente não consegue ser diferente.

Você pode estar lendo isso e achando um absurdo um nível tão alto de falta de autoaceitação, mas deixa eu te perguntar: quais são as situações na sua vida em que você não anda de mãos dadas na rua… Consigo mesmo? Com as suas próprias escolhas?

Todos nós vivemos em uma peça de teatro que, como disse uma vez a atriz Claudia Gimenez, “não tem ensaio – já estreou e, um dia, o pano vai fechar”. Mas, a despeito disso, achamos que sempre vamos ter um amanhã para finalmente fazermos aquilo que ainda não tivemos coragem de fazer. Mas, um dia, não vai mais ter.

Como você escolhe viver o dia de hoje?

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.