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PREPARE-SE PARA SER NOVO NO ANO QUE VEM

Estou há duas semanas nos Estados Unidos, em uma viagem muito planejada. Marido, filho, mãe, padrasto, irmã e cunhado, enteado e nora: tá todo mundo aqui. E, por mais que a gente se planeje e se prepare, imprevistos sempre acontecem quando oito pessoas (nove com Gael) têm de cumprir, juntas, todos os combinados.

Perda de malas no aeroporto, desentendimentos sobre quem vai aonde no carro de quem, consequente troca de veículo no aeroporto pra caberem sete pessoas em um carro só e até perda de vôo de volta pra casa – rolou de tudo. E, por mais que eu, Ricardo e Gael ainda tenhamos alguns dias só nós três por aqui, este período de convivência intensa me trouxe boas reflexões sobre o modo como eu vivo a minha vida.

E de como eu devo agir, se quiser ter menos estresse e mais contentamento no meu dia a dia.

Coisas que eu tenho descoberto sobre mim (ou nem tanto “descoberto” assim, apenas me dado conta disso): eu sou a maior controladora do universo. Por mais que eu viva cantarolando por aí o sambinha “deixa a vida me levar, vida leva eu”, eu ainda tenho a tendência de me colocar na posição de líder da turma, em uma tentativa absolutamente inútil de manter todas as variáveis existentes debaixo das minhas asas. Como se, apenas porque eu decidi isso, nada fosse acontecer de inesperado ou de desagradável. Como se fosse Deus. Ou algo assim.

Eu digo para mim mesma que faço isso apenas para que tudo saia da melhor forma possível para todos, mas a verdade é que é apenas o medo que está por trás de tudo isso: medo de acontecerem coisas com as quais eu não saiba ou não queira lidar, de pessoas amadas se meterem em enrascadas, de sofrerem. Medo, medo, medo.

A socióloga norte-americana Bréne Brown, em uma palestra apresentada no TEDx, há alguns anos, apresentou um estudo muito interessante. Analisando dados de uma pesquisa feita com pessoas que se sentiam felizes em suas vidas e pessoas que não se sentiam, chegou à conclusão de que as pessoas felizes eram aquelas que se sentiam profundamente conectadas com as pessoas com quem se relacionavam.

E o mais surpreendente é que a única coisa que os diferenciava dos “infelizes” era o fato de que os “felizes” acreditavam que, independentemente do quão imperfeitos se considerassem, ainda assim eram merecedores de serem amados e valorizados pelos outros.

Ou seja: quem se acha merecedor de ser amado geralmente se sente mais amado do que quem não se sente merecedor.

Esta simples constatação já levanta vários insights por aqui, porque eu sempre me considerei uma pessoa “menos” do que gostaria de ser. Na escola era menos bonita, menos rica e menos popular. Em meus relacionamentos, sempre fui menos importante do que gostaria de me sentir. Nas amizades, sempre foi uma constante me considerar menos valorizada – enfim: de modo geral, se eu fosse me encaixar de alguma forma na pesquisa de Bréne Brown, eu certamente seria qualificada como uma das pessoas “infelizes”, que não se sentem merecedoras do amor do outro, em um ciclo que se retroalimenta e que se autorrealiza o tempo todo.

Nesta época do ano muito se fala em como queremos que o futuro seja. A chegada da virada do ano cria uma egrégora mundial de boas intenções, desejos de mudança e de maior alinhamento interno para que, no futuro, sejamos todos mais felizes. E por mais que conscientemente saibamos que a única coisa que verdadeiramente muda com o final do ano é a agenda, todos nós inevitavelmente pensamos, em um momento ou em outro, que no ano que vem tudo vai ser diferente.

E por mais itens que constem nas nossas “listinhas de ano novo”, eu nunca fiz uma que tivesse um item como “me sentir merecedora de afeto e amor”. Quando olho para meus comportamentos de controle que descrevi alguns parágrafos acima, o que percebo é que, na verdade, minha tentativa de controlar o mundo à minha volta é apenas para me sentir sendo valorizada pelas pessoas por proporcionar experiências boas a elas.

Só que, muitas vezes, na tentativa de fazer o bem para os outros eu acabo na verdade arrancando de mim mesma a possibilidade de ter as minhas próprias experiências boas. E, inevitavelmente, quando decido deixar de fazer algo bom, como por exemplo aproveitar a manhã de sol na piscina com meu filho, porque acordei antes de todo mundo e vi que não tinha nada para o café da manhã (e então EU tenho que me enfiar dentro do carro e sair pra comprar), quando chego em casa e vejo que todo mundo está se virando e a única que se preocupou com o assunto fui eu…

Eu me sinto uma besta quadrada, e pensamentos do tipo “sua anta, devia era ter ficado na piscina” me invadem a cabeça, abastecendo todo o tipo de processos de vitimização e de falta de valorização. Em outras palavras: eu sou uma maníaca controladora porque, no fundo no fundo, o que quero através das experiências boas dos outros é comprar o seu afeto e amor. Obter reconhecimento – e nada mais.

E a verdade é que a melhor forma de se preparar para ter um ano novo de verdade é se preparar para ter relações de verdade: relações nas quais não precisemos estar o tempo todo fazendo coisas para que as pessoas se sintam bem, em detrimento daquilo que vai nos fazer sentir bem.

Relações nas quais assumimos a responsabilidade pelo que nos compete e deixamos que o outro arque com as consequências de suas decisões também. Relações nas quais nos coloquemos em primeiro lugar, e não porque isso é um egoísmo, mas sim porque se não estivermos em primeiro lugar em nossas próprias vidas, exigiremos estar em primeiro lugar na vida dos outros – e relacionamentos e exigências deste tipo simplesmente não combinam.

Cuide das suas relações, mas não se esqueça de que você faz parte delas. Seja bacana com as outras pessoas, mas o seja com você também. Perceba o quanto você é abençoado por ter tantas pessoas legais na sua vida, mas não seja infantil ao ponto de achar que ter tantas pessoas legais na sua vida é sorte ou acaso: é merecimento.

Se você tem pessoas muito legais na sua vida, muito provavelmente é porque é muito legal também. E se você começar 2018 se enxergando como a pessoa legal pra caramba que eu tenho certeza de que você é, eu tenho certeza de que o ano vai ser legal com você também.

Sigamos!

PS: Durante a viagem, fui pedida em casamento no dia do meu aniversário, em um almoço num restaurante super bacana. Tudo armação do Ricardo e da minha família. Sinal que sou merecedora de amor, né? E você também!

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.