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COMO PLANEJAR SEU NOVO ANO

Ter um filho de dois anos e meio me faz perceber coisas incríveis sobre nós, seres humanos. Chega a ser engraçado e, às vezes, até mesmo ridículo constatar que, de tantas formas, nenhum de nós chega a ser muito diferente de uma criança de dois anos e meio.

Explico: todos os dias acontece a mesma coisa. Invariavelmente chega uma hora, no final de tarde, em que ele começa a ficar cansado. E quando fica cansado, começa a ficar também mal humorado. Ele fica impaciente; nada mais serve e nem nada mais o anima. Se eu pudesse e se isso fosse possível, eu simplesmente apertaria um botão de “hibernar”, como faço com o meu computador de vez em quando – mas no caso de uma criança, isso infelizmente não existe.

Daí começa a ladeira para o inferno.

Ele fica cansado e cada vez mais irritado e cada vez mais impaciente. Se eu não estou com o jantar mais ou menos pronto e preciso ficar na cozinha mais do que cinco ou dez minutos com a barriga no fogão, ele começa a mexer em tudo: gavetas, armários, portas debaixo da pia. E se quando ele veio para a cozinha tinha algum brinquedo nas mãos, invariavelmente ele vai “guardar” o brinquedo em algum lugar bem nada a ver – para, cinco minutos depois, começar a procurar o brinquedo e, é óbvio, não achar.

Ele começa a falar que quer o brinquedo. Eu, com a panela no fogo, peço para ele esperar um pouco. Ele, irritado, começa a repetir insistentemente que quer quer quer quer quer o brinquedo. Se o Ri está por perto, é o momento em que eu o convoco para a cozinha, com cara de poucas amigas – porque eu mesma começo a ficar irritada. Mas se ele está super ocupado fazendo alguma coisa absolutamente imprescindível, o pampeiro está instalado.

Eu poderia continuar descrevendo todas as mini coisas que vão acontecendo e que terminam com Gael aos prantos, sem querer comer, jogado no chão esperneando e dizendo que “quero papar no shopping”, “quero ir na casa da vovó Ice”, “quero ir na natação” ou qualquer outra coisa que, evidentemente, ele não vai ter naquele momento.

Nós somos todos iguaizinhos.

O fim do ano começa a chegar e todos nós entramos naquela vibe de adeus ano velho, feliz ano novo e que tudo se realize no ano que vai nascer. Tudo o que a gente enxerga é essa contagem regressiva, que começa com as bolas de natal coloridas nas árvores das lojas – que passam a sugerir ostensivamente que você adquira coisas. Presentes para os outros, uma agenda nova para você. Um frenesi que todo mundo conhece e eu não preciso explicar em detalhes.

A gente olha em volta e tudo o que vê é que, ai ai ai ai, está chegando a hora. “Tá acabando!”, é o que todo mundo sente vontade de dizer. Na verdade nada está acabando, nossas mentes racionais sabem disso. A única coisa que está acabando é a volta que o planeta começou a dar em volta do Sol, há mais ou menos 365 voltas da Terra em torno de si mesma atrás – todo mundo sabe disso. Mas a gente entra num fenômeno que eu, psicóloga de formação que sou, só consigo chamar de histeria coletiva.

A gente começa a querer coisas. Porque, como Gael, estamos tão exaustos e cansados que qualquer coisa começa a nos estressar: o trânsito, o shopping cheio, as festas com as famílias que a gente mal suporta. Ter que pensar em lista de presentes, em roupas pras festas, no que levar de comida nos lugares. E a gente fica irritado.

Exatamente igual a Gael.

E, assim como ele, passamos a querer coisas – muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender, pra dizer o mínimo. A gente começa a fazer listinhas de ano novo, planejando o futuro. Olhe aí, pra dentro de você, e perceba quantas coisas você está planejando para 2018. Faça uma listinha mental. E, agora, responda para si mesmo antes de responder para mim:

O que te faz pensar que, se você já não está no caminho para conquistar o que quer exatamente hoje, você vai conseguir conquistar em 2018? Será que todas as coisas que você está planejando para 2018 não são só válvulas de escape para o cansaço que você está sentindo no agora, porque sabe que não está vivendo o que gostaria de estar vivendo?

Igualzinho Gael?

Muitas pessoas me enviam mensagens perguntando o que é necessário para conseguir planejar um novo ano, tirar as metas do papel, transformar as promessas em realidade e conseguir, de fato, traçar planos reais para que as resoluções de ano novo sejam alguma coisa além de apenas resoluções de ano novo – e eu acho esse assunto tão fascinante que muito provavelmente ainda vou falar mais sobre isso. Mas a minha resposta mais genérica e simplista sobre isso, hoje, seria:

Deixe o jantar pronto.

Pelo menos é isso o que eu tenho feito e tem funcionado. Se eu deixo o jantar pronto, na hora certa Gael come, brinca um pouquinho, depois toma banho e, na maioria das vezes, dorme antes mesmo de sair do chuveiro. Eu me sento com o Ri no sofá da sala com uma taça de vinho nas mãos e assistimos um episódio de algum seriado. Depois, vamos dormir. A noite vira dia e todos acordam descansados no dia seguinte.

Cuide do seu jantar para que ele esteja pronto na hora. Dê a si mesmo o acalento, o prazer e a nutrição da qual você precisa. Não deixe para depois a satisfação das suas necessidades, amortecido e anestesiado por um dia a dia no piloto automático em que as necessidades dos outros são sempre mais importantes do que as suas. Não chegue ao ponto de estar exausto – pare antes.

Se você não cuidar das suas próprias satisfações, mais cedo ou mais tarde vai começar a mexer em gavetas, deixando suas coisas por aí. Vai começar a mexer em armários, a tirar coisas das prateleiras procurando por aquilo que perdeu por não prestar atenção no que tinha. E, no auge da sua exaustão e do seu cansaço e da falta de sentido do que você está vivendo no agora, vai começar a querer coisas.

Comer no shopping, ir na casa da vovó Ice, ir na natação – e não vai ser a barriga de tanquinho, o celular novo ou a viagem pra Grécia que vai te devolver a felicidade porque a causa da sua infelicidade não é a falta destas coisas. A causa da sua infelicidade é a falta de si mesmo. Das suas necessidades serem atendidas na hora certa. De ter uma refeição saborosa para comer quando está com fome.

Se você quer começar a planejar o seu próximo ano, comece por planejar a sua próxima refeição. O bate-papo com o amigo de longa data que você não vê faz um tempão. O tempo livre com seu filho no quintal de casa ou no parque da cidade. O sorvete de morango no final de tarde. Presenciar aquele momento em que o dia se torna noite – ou em que a noite se torna dia.

São estas coisas que nos alimentam a alma e nos fazem experimentar a paz que queremos sentir. Não é nenhuma outra coisa. Preste atenção em mim: planejar o seu jantar é cuidar de si mesmo.

E é só disso que a gente precisa para que qualquer ano seja o melhor de nossas vidas.

Sobre

É psicóloga e uma das maiores vozes brasileiras do autoconhecimento e da liberdade emocional na internet. Desde 2012, impacta diariamente a vida de mais de 400 mil pessoas através de seus canais nas redes sociais e de seus 3 livros publicados. Flavia está na lista das 14 YouTubers brasileiras para conhecer e acompanhar, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e seu primeiro livro, Sua Melhor Versão – Desperte para uma nova Consciência, foi best-seller no Brasil, estando nas principais listas de títulos mais vendidos. Com mais de 8000 alunas, conduz pessoas a se conhecerem e se reconectarem com quem realmente são para construir uma vida mais leve nos relacionamentos consigo mesmas e com os outros.